Baseado em casos nacionais e internacionais, um relatório da ong Sea Shepherd Brasil sugere que zoos e aquários mundiais se dediquem mais à conservação de espécies e menos à diversão para as pessoas.
Conforme o levantamento, deveriam receber mais investimentos centros de reabilitação e santuários – esses ainda não regrados no Brasil –, ambos focados em recuperar e melhor tratar os animais.
Essas estruturas, diz a análise, têm menor exposição de animais, recursos de doações públicas e privadas, reproduções ligadas a planos de reintrodução na natureza e espaços que atendem às necessidades de cada espécie.
Um exemplo da ong são os ursos polares, que percorrem até 30 km diários na natureza e são usualmente mantidos em recintos que são uma fração de seu espaço natural.
Os casos avaliados para as conclusões da Sea Shepherd Brasil apontam que sete em cada dez espécimes em zoos e aquários não correriam risco de extinção, mas costumariam ser os mais bonitos e chamativos.
A mesma lógica se veria no chamado “resgate seletivo”, onde os animais escolhidos seriam sempre os mais atrativos ao público. Muitos seriam capturados na natureza para abastecer tais estabelecimentos, diz o balanço.
Um destaque é o indiano Greens Centro Zoológico de Resgate e Reabilitação, suspeito de receber animais vítimas do tráfico, de resgates direcionados e por meio de dribles em regras internacionais de comércio.

O relatório listou igualmente investimentos em conservação de US$ 350 milhões (0,24%) frente a lucros anuais registrados por aquários e zoos mundiais de US$ 143 bilhões, equivalentes hoje a R$ 814 bilhões.
Para a ong, proteger realmente a biodiversidade depende de manter os ecossistemas e de refletir “sobre o custo ético de como fazer conservação”. “Conservar espécies não se faz com jaulas, tanques ou vitrines”, avalia.
Mesmo assim, é preciso atentar às condições gerais de aquários e zoos, diz o doutor em Bioética e Ética Aplicada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Frank Alarcón.
“Animais em cativeiro em situação de maus tratos são um claro problema de gestão e manejo de plantel”, descreve.
Além disso, é preciso garantir que espécies silvestres em zoológicos e aquários estejam registradas no Sisfauna, uma base eletrônica para controlar o uso, manejo e comércio desses animais.

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Consultada por ((o))eco, a Associação de Zoológicos e a Aquários do Brasil (AZAB) afirma que eles são fundamentais para manter a biodiversidade, gerar conhecimento científico, levar educação ambiental às pessoas e reabilitar animais silvestres.
Outras funções são receber espécimes atropelados, queimados, apreendidos do tráfico e desabrigados por perda de áreas naturais. Também realizam ou apoiam a reabilitação de animais para retorno à vida livre.
“O Instituto Argonauta, ONG criada e apoiada pelo Aquário de Ubatuba, atendeu mais de 11 mil ocorrências de animais costeiros entre 2015 e 2022, no litoral norte de São Paulo”, cita a Associação.
Conforme a entidade, espécies ameaçadas como mico-leão-dourado, lobo-guará, condor-da-Califórnia, órix-da-Arábia e tigre-siberiano estão vivos graças à zoológicos mundiais.
“Eles mantiveram populações viáveis sob seus cuidados, viabilizando programas de reprodução, reintrodução e manejo genético”, conta.
Quanto ao baixo investimento em conservação apontado, a entidade rebate que os números são de 2008 e incluem gastos de cerca de metade dos ligados à Associação Mundial de Zoológicos e Aquários (Waza, sigla em Inglês).
“Os dados estão muito aquém do que realmente é gasto por zoológicos e aquários”, disse. “Não consideram diversos custos, como investimento em infra-estrutura, alimentação, recursos humanos e diversos outros gastos diretos e indiretos”.

Sobre supostos maus-tratos de animais em aquários e zoos, a Associação avalia que a ong os trata como “prisões”, não pesa as distintas realidades de instituições brasileiras e foca em animais raros ou exóticos, como urso polar e orca.
“Evidentemente que o bem-estar animal deve ser buscado incansavelmente por zoológicos e aquários, e a ciência tem dado contribuições fundamentais para se entender as necessidades de diferentes grupos animais e os cuidados necessários para seu bem-estar”, agrega.
Para a AZAB, a análise da entidade civil é descolada da realidade científica e prática e confunde o necessário combate à exploração animal com o trabalho sério de instituições comprometidas com a conservação.
“Ao contrário do apelo da Sea Shepherd, argumentamos que as pessoas não só devam visitar zoológicos e aquários, mas também apoiá-los em sua missão de cuidado com os animais e de conservação”, disse.
Confira as íntegras da resposta da AZAB e do relatório da Sea Shepherd Brasil.
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