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Crise climática irá encolher o lar de anfíbios na América Latina 3m1757

Estudo mostra que até 2050 quase metade das espécies de sapos e rãs deve perder áreas de habitat na região, algumas dela por completo, devido às mudanças do clima

Duda Menegassi ·
12 de maio de 2025

Os impactos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade atingem plantas e animais de diferentes grupos e ambientes. Particularmente sensíveis às alterações de temperatura e umidade, os anfíbios – grupo composto por sapos, rãs e pererecas – estão com seu futuro em xeque. Um estudo recente mostra que 213 espécies da América Latina, quase metade de todos os anfíbios da região, podem perder parte de seu habitat até 2050 e outras nove podem ficar completamente “sem lar”. 

Os pesquisadores analisaram quase 500 espécies de anfíbios e combinaram dados de clima, genética e distribuição geográfica. O estudo, publicado no periódico Nature Communications, com o aberto, revela que a crise climática irá comprometer não apenas a diversidade de espécies, mas também toda história evolutiva de anfíbios na região Neotropical – que equivale aos territórios tropicais da América Latina.

“Anfíbios têm características únicas e vêm se adaptando há milhões de anos. Quando uma dessas espécies some, levam junto uma parte da história da vida na Terra. Além disso, a perda dessas espécies pode levar a perda de serviços essenciais que eles desempenham no ecossistema”, explica a ecóloga Gabriela Alves-Ferreira, estudante de doutorado no Programa de Pós graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e uma das autoras do artigo.

Os resultados da pesquisa mostram que, até 2050, a distribuição de 42,2% dos anfíbios neotropicais irá encolher, o equivalente a 213 espécies impactadas. 

Num cenário ainda mais crítico, outras nove espécies perderão por completo seu habitat. Nessa lista preocupante estão cinco anfíbios com ocorrência no Brasil, uma delas exclusiva do país: a perereca-verde ou perereca-flautinha (Aplastodiscus leucopygius), que ocorre na Mata Atlântica, entre Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Apesar de atualmente classificada como Menos Preocupante por ter seu habitat distribuído em áreas protegidas, os limites das unidades de conservação nada poderão fazer para deter os impactos das mudanças climáticas.

A ironia se repete para outras espécies, igualmente classificadas como baixo risco de extinção, porém que, diante da crise climática, podem rapidamente desaparecer – vítimas do aumento das temperaturas e alterações no regime de chuvas.

A pesquisadora explica para ((o))eco que, para tentar resguardar os anfíbios, é fundamental investir em políticas e ações de conservação que ajudem a frear os efeitos das mudanças climáticas. Entre as áreas prioritárias para conservação no Brasil, de acordo com o estudo, estão a Serra do Mar, a Serra da Mantiqueira e o sul da Bahia, todas na Mata Atlântica, que poderá ser um refúgio para os anfíbios. 

“Também é essencial proteger e restaurar regiões identificadas como áreas-chave para manter a diversidade e a história evolutiva desses animais – como a Serra do Mar, no Brasil, o noroeste e sudeste da Colômbia e o norte do Escudo das Guianas. Preservar esses ambientes não apenas oferece refúgio para as espécies, mas também contribui para mitigar os impactos das mudanças climáticas em escala mais ampla”, detalha Gabriela.

  • Duda Menegassi 4p6v25

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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