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Por que o mar nos faz bem? 39399

Em um contexto global de aumento da ansiedade e da depressão, estudos revelam como a proximidade do mar pode aliviar essas condições

11 de fevereiro de 2025
  • Rede Ressoa 6t6k1

    A Rede Ressoa é um projeto colaborativo de divulgação científica e comunicação sobre o Oceano.

  • Bárbara Queiroz g576a

    Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual do Ceará. Pós-graduada em Neurociências e comportamento humano.

  • Monique Torres de Queiroz 6c6io

    Oceanógrafa e mestra em Oceanografia pela Universidade de São Paulo (USP).

Se você se sente mais feliz perto do mar, isso pode não ser apenas uma questão de gosto pessoal ou coincidência. Estudos científicos têm revelado o que práticas terapêuticas antigas já sugeriam: a proximidade com o mar pode ter um impacto positivo na saúde mental. A urgência em debater esse tema é evidenciada pelo relatório da Organização Pan-Americana de Saúde, que revela que 300 milhões de pessoas no mundo convivem com a depressão. 

No Brasil, a situação é ainda mais alarmante: o país lidera os índices na América Latina, com 5,8% da população afetada pela doença, o que equivale a 11,7 milhões de pessoas. As mulheres são particularmente mais vulneráveis, e as causas estão associadas a problemas sociais estruturais, como alta carga tributária, baixa remuneração, precariedade nos serviços básicos e altos índices de violência.

A praia auxilia na redução do estresse e da ansiedade, porque há uma redução da atividade do sistema nervoso simpático e uma estimulação do sistema nervoso parassimpático, o que traz uma sensação de relaxamento e tranquilidade. Um estudo publicado em 2023 fez um experimento de realidade virtual para avaliar reações psicofisiológicas a imagens de praias versus de zonas urbanas e verdes, tendo como resultado que praias são mais eficientes na diminuição do estresse. O estudo, realizado com 164 adultos saudáveis de 18 a 65 anos na região norte da Bélgica, mostrou que a frequência respiratória diminuiu ao observarem imagens virtuais de praias, em comparação com zonas verdes e urbanas.

Mas, por quê?  2y205u

Um dos possíveis motivos para essa diminuição da frequência respiratória é a paleta de cores da praia, que é predominantemente azul. O azul tem uma associação com coisas positivas para a mente humana, representando o céu, o oceano, a pureza e a tranquilidade. É uma cor que comprovadamente induz o sono e o relaxamento por seu efeito calmante no cérebro. 

Um outro estudo, publicado em 2002, analisou a possível influência das cores na formação de memória visual. Foram apresentadas imagens de escala colorida e cinza a 36 participantes, e aquelas pessoas que viram imagens coloridas tiveram resultados de 5 a 10% melhores na memorização de imagens do que as que viram imagens em preto e branco. O mais impressionante é que esse desempenho melhor apenas acontecia quando elas viam imagens com congruência de cores, o que correspondia a padrões encontrados na natureza dos quais eles tinham conhecimento e não a um arranjo de cores artificiais.

Sendo assim, o estudo demonstrou que a cor e a luz tem uma influência sobre a formação de memória e processos de reconhecimento de imagens. Isso nos permite inferir que as cores estão associadas à memorização e a processos atencionais, o que pode ser uma pista para o porquê da praia melhorar a capacidade de concentração e de meditação.

Além da cor azul, os sons de ondas reduzem o estresse e a pressão arterial, estimulando dopamina e ocitocina, conhecidos como hormônios da felicidade. Foto: Natasha Zoellner / Pexels

O mar é fascinante 261jf

Psicologicamente falando, o mar é fascinante para as pessoas por sua beleza, imensidão e mistério. Crescemos escutando histórias sobre piratas e sereias, indo à praia para brincar e criar castelos de areia. O mar está ligado às memórias afetivas mais profundas, pelo menos, de quem podia ir à praia ocasionalmente. Isso faz com que percebamos a praia como um lugar seguro e relaxante. Além disso, o ser humano tem uma curiosidade especial por aquilo que é desconhecido e grandioso. 

As paisagens paradisíacas e encantadoras das praias mal cabem nos olhos e despertam um sentimento de liberdade e aventura. Outro estudo, este realizado na China com 68 estudantes universitários de 20 a 22 anos, analisou os impactos fisiológicos e psicológicos de imagens de paisagens naturais extraordinárias. Os resultados mostraram que quanto mais extraordinária a imagem, maior é seu efeito restaurador nas emoções. Para considerar uma imagem extraordinária, foram utilizadas cinco dimensões: iração, distância, complexidade, mistério e singularidade. 

Desse modo, podemos concluir que a beleza ímpar e única da praia pode ter um forte efeito emocional sobre nosso bem-estar. Em muitos lugares, o mar é visto como sagrado e também está presente em mitos, lendas e contos. São muitos relatos sobre um sentimento de pertencimento em relação ao mar, talvez por que haja uma identificação com ele em decorrência de sua natureza aparentemente ilimitada, profunda, misteriosa e perigosa. Então, projetamos aspectos de nossa subjetividade nele, assim como também o utilizamos metaforicamente para falar sobre nossos sentimentos e pensamentos mais complexos. 

Construímos crenças e interpretações sobre o mar por conta de fatores culturais e espirituais. Foto: Nathan Hilton / Pexels

Mas não é tudo 1x1t42

No entanto, é importante deixar claro que, em hipótese alguma, o mar substitui o acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Esses cuidados são fundamentais para tratar questões de saúde mental de forma responsável e eficaz. O mar pode ser um excelente aliado para amenizar os sintomas e reduzir o estresse, mas nunca uma alternativa exclusiva ao tratamento profissional capacitado.

A conexão com o mar vai além de uma simples busca por bem-estar; é um reconhecimento profundo da importância desse ecossistema em nossas vidas. O oceano nos proporciona saúde mental, alimentos, regula a temperatura do planeta, abriga uma biodiversidade única e serve como fonte inesgotável de inspiração. Ao desfrutarmos de seus inúmeros benefícios, devemos retribuir de maneira responsável e sustentável, garantindo que futuras gerações possam conhecê-lo em uma versão ainda mais vibrante e limpa. 

Saiba Mais 6k6m6m

Pesquisas de índices de depressão: 

Estudos psicológicos mencionados: 

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

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