Colunas

Que belo horto para plantar favela 593h2e

O deputado Edson Santos  junta "moradores" com "Horto Florestal" como se não houvesse o menor atrito entre essas palavras. 

23 de novembro de 2010 · 15 anos atrás
  • Marcos Sá Corrêa 36404y

    Jornalista e fotógrafo. Formou-se em História e escreve na revista Piauí e no jornal O Estado de S. Paulo. Foi editor de Veja...

Veterano de lutas contra o patrimônio público no Rio de Janeiro, o deputado Edson Santos presenteou a cidade nesta antevéspera de Natal com um texto irrefutável. Não dá para refutá-lo, porque cada palavra do texto colide com a seguinte, o que é irável mesmo para uma época em que os políticos brasileiros conquistaram a prerrogativa de dizer qualquer coisa.

A primeira frase de Edson Santos vai diretamente ao ponto final. Ela declara que “é perfeitamente possível conciliar a permanência dos moradores do Horto Florestal com a expansão da área de visitação do Parque Jardim Botânico, também conhecida como arboreto”. Pode-se parar por aí. Para começo de conversa, ele junta “moradores” com “Horto Florestal” como se não houvesse o menor atrito entre essas palavras.

E o pior é que, até aí, tudo bem. O oxímoro retrata a realidade, porque a realidade ali é absurda. Aquilo se chama Horto porque abrigou até meados do século ado talhões de mudas para reflorestamento. Eles constam de mapas do Ministério da Agricultura até meados da década de 1940. Suas alamedas tinham nomes de árvores.

“Aquilo se chama Horto porque abrigou até meados do século ado talhões de mudas para reflorestamento. Suas alamedas tinham nomes de árvores.”

Era, então, um Horto ao pé da letra. A cidade perdeu-o. Ele foi surrupiado por istrações pródigas e funcionários espertos, depois por descendentes e colaterais de funcionários espertos, enfim por amigos e locatários de funcionários espertos. Qualquer um aproveitou a bagunça para se aboletar no jardim.

O Jardim Botânico sequer fez a conta das casas que semeava. Seu número ainda varia entre 550 e 621. Há entre elas residências funcionais que ainda guardam os traços da arquitetura oficial. E também biroscas, garagens, oficinas e puxadinhos para acomodar famílias que procriam, parentes que chegam de longe e carros que não param de se multiplicar.

Favelizou-se, portanto, um jardim bicentenário do Rio de Janeiro. Com pretextos tão frágeis que bastou a teimosia de um procurador para desmontá-los. Ele se chama Luiz Cláudio Pereira Leivas. Disparou sobre cada imóvel do Jardim Botânico um petardo jurídico de longo alcance e mira telescópica. Seus processos tramitaram sozinhos por quase duas décadas, sem que qualquer diretor do Jardim Botânico movesse um dedo para empurrá-los. Vingaram pela força de seus próprios argumentos. E as sentenças para reintegração da posse começaram a despontar em série, uma a uma, nas mais altas instâncias judiciais.

Aí, com o caso julgado, a Secretaria do Patrimônio da União resolveu descumprir as sentenças. O deputado Edson Santos, recém-desembarcado do governo federal, onde foi ministro da Integração Racial, defende essa nova, militante e omissa SPU contra o tradicional Serviço do Patrimônio da União. Ele aprecia invasões. Elege-se em parte com o apoio delas. Defende-as por princípio e por afinidade política. Apoia até a invasão que desfigurou na Zona Oeste a Colônia Juliano Moreira. Nela, hoje, só restam sintomas de sanidade ambiental e istrativa no pavilhão dos dementes. O resto a loucura fundiária e urbanística do Rio de Janeiro contagiou.

Isso faz do deputado Edson Santos um especialista no assunto? Quem dera. A especialização é artigo em baixa na política brasileira. Ao advogar a invasão do Horto, ele errou feio. Definiu de cara o arboreto como “área de visitação do Parque Jardim Botânico”. Ainda nem percebeu que o arboreto é, oficialmente, o laboratório a céu aberto de um instituto de pesquisas chamado Jardim Botânico do Rio de Janeiro, cuja Escola Nacional de Botânica Tropical está, por sinal, separada dos laboratórios e bibliotecas pela favela do tal “Parque Jardim Botânico”. Isso só ele sabe o que é e onde fica.

Leia também 204l3u

Notícias
5 de junho de 2025

Morre Dalton Valeriano, responsável por modernizar o monitoramento do desmatamento no país 1d676q

Pesquisador do INPE, Valeriano foi responsável pela operacionalização do sistema DETER, que revolucionou o controle e combate ao desmatamento

Notícias
5 de junho de 2025

Ave criticamente em perigo de extinção, soldadinho-do-araripe ganha um refúgio 5a5z45

Governo federal assina criação do Refúgio de Vida Silvestre Soldadinho-do-Araripe, no Ceará, para proteger e recuperar o habitat da ave, sob risco de desaparecer

Análises
5 de junho de 2025

Greenwashing e os desafios da restauração ecológica e da Sustentabilidade Corporativa 4k3j11

Exigências de métodos auditáveis, indicadores científicos confiáveis e certificações rigorosas precisaram ser implantadas, o que tornará imperativo que as empresas adotem práticas socioambientais verdadeiras e eficazes

Mais de ((o))eco 49445w

regularização fundiária 2m38p

Salada Verde

Lula cria grupo de trabalho para organizar destinação de terras públicas no país 2y6a1l

Notícias

61% das Florestas Públicas ainda não destinadas na Amazônia estão registradas como privadas 30i3p

Reportagens

Com crise climática, falar de regularização na Amazônia é dever de todos 2b5z2b

Reportagens

Regularização fundiária em Unidades de Conservação vai levar 490 anos, no o que está 49s5o

jardim botânico 6f6x2j

Reportagens

Uma última chance para os animais e plantas extintos na natureza 102919

Notícias

Ministério confirma intenção de ceder prédio do Museu do Meio Ambiente à iniciativa privada 3f1s58

Reportagens

Conheça o brasileiro que comanda o jardim botânico mais importante do planeta 593va

Vídeos

Vídeo: O que é um jardim sensorial? por João Carlos Silva e Ygor Jessé Ramos 336hi

rio de janeiro 566j16

Colunas

Verão em Realengo  12666i

Salada Verde

Ação prende casal que capturou macaco-prego no Parque Nacional da Tijuca 255i1a

Reportagens

Superlotação de animais e más condições geram nova crise no Cetas-RJ 55s6

Salada Verde

Trilha Transcarioca terá trecho oceânico até arquipélago das Cagarras k5q24

ibama 4c7316

Reportagens

Superlotação de animais e más condições geram nova crise no Cetas-RJ 55s6

Salada Verde

Boiada e seus donos devem sair de áreas que destruíram no Pantanal 3h6t6v

Salada Verde

Assassinato de onça-pintada será investigado pela fiscalização federal 686t6s

Salada Verde

Processo contra Salles por contrabando de madeira volta ao STF 205r4e

Deixe uma respostaCancelar resposta 2c1q6t

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.