Recentemente foi divulgado um novo recorde de visitação a Parques Nacionais brasileiros: foram 12.529.994 visitas em 2024, um número 5,8% maior ao reportado em 2023. Um aumento real de 3,8% no ano, se desconsiderados os Parques Nacionais que não eram monitorados ou que tiveram alterações na base de cálculo, com inclusão de novas portarias e os.

Ao mergulhar nos números da visitação aos Parques Nacionais brasileiros em 2024, não exploramos somente estatísticas, desvendamos a vibrante relação entre a sociedade e a natureza, e o potencial de um dos maiores tesouros do nosso país. Mais do que medir fluxos de pessoas, esses dados revelam tendências cruciais sobre conservação, desenvolvimento regional e o bem-estar de quem vive ao lado ou longe dos parques.
Compreender esses movimentos é essencial para todos, de entusiastas da natureza a tomadores de decisão, pois oferecem um panorama claro de onde estamos e para onde podemos ir na proteção e valorização do nosso patrimônio natural.
Os números estão disponíveis em uma plataforma que permite não somente a extração dos dados, mas também filtros e análises online. Os números mais discutidos e publicados dizem respeito ao total e aos 10 parques mais visitados. Pouco se fala sobre os parques menos visitados ou aqueles que aram a receber visitantes.
Os parques que aram a ser visitados em 2024 53643c
Ao longo de 3,5 anos visitamos e documentamos todos os parques nacionais brasileiros em uma expedição. Não somente conhecemos e aproveitamos os atrativos dos parques, como acompanhamos muitos processos realizados pela equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio, entre eles o controle de visitas e o monitoramento da biodiversidade.
Portanto, é natural que procuremos nós mesmos nesses números. Cinco parques nacionais aram a monitorar o número de visitas em 2024. Quatro desses receberam duas visitas em 2024: nós dois.
- Pacaás Novos: sobreposto à Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, onde fica o ponto culminante de Rondônia, o Pico do Tracoá, território de 9 povos indígenas, dos quais 5 não contatados.
- Acari: na beira da rodovia Transamazônica, um parque que compõe o mosaico de Unidades de Conservação criado para deter o chamado Arco do Desmatamento
- Campos Amazônicos: um dos parques onde fizemos voluntariado de monitoramento de biodiversidade, percorrendo trilhas diariamente para identificar e quantificar mamíferos, aves e borboletas
- Nascentes do Lago Jari: um parque ado pela cidade de Tapauá às margens do Rio Purus, onde o único o é por rio e grande parte das pessoas vive em casas flutuantes

Alterações no ranking dos top 10 2u2o60
O ranking dos dez parques mais visitados sofreu duas alterações. ou a compor essa lista o Parque Nacional do Itatiaia (13º mais visitado em 2023, 9º mais visitado em 2024), que teve um aumento de 36,7% no número de visitas com novos atrativos como as cachoeiras Espelho do Céu e Itupi. Além disso, as visitas à cachoeira do Escorrega, um atrativo de fácil o na parte baixa do parque, aram a ser contabilizadas a partir de abril de 2024.

O Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba voltou a integrar a lista dos top 10 (17º mais visitado em 2023 e 10º mais visitado em 2024), com um aumento de 123,2% na visitação no último ano. A melhoria da segurança na cidade de Macaé, de onde vem a maioria dos visitantes, aliada a melhoria do receptivo com a conclusão da reforma do centro de visitação, chegada das novas educadoras ambientais e contratação de agentes ambientais temporários (ATAs) de uso público, criaram as condições para esse impulso na visitação.
Deixou de fazer parte dos top 10 o Parque Nacional de Brasília (7º mais visitado em 2023 e 11º em 2024) cuja visitação caiu 34,6% entre 2023 e 2024. A capital federal sofreu com mais de 140 dias sem chuvas em 2024. Um grande incêndio chegou até o Parque Nacional de Brasília, conhecido como “Água Mineral” pelos brasilienses, causando fechamento de o a turistas grande parte dos meses de setembro e outubro, historicamente a época de maior visitação.
Foram cerca de 2.000 hectares queimados em 2024 na área do Parque Nacional de Brasília, atingindo a mata de galeria com fogo subterrâneo, com grande dificuldade de combate e uma equipe dedicada por um mês para evitar que o fogo se alastrasse para outras áreas.
O Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal, no sul da Bahia, também deixou de fazer parte dos 10 mais visitados. Em 2023, o parque ocupava a décima posição e ou para a 13ª em 2024, mesmo com um aumento na visitação de 1,7%.

Os parques mais visitados 2m24t
O Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, continua sendo o mais visitado do país. Em 2023 foram informados os números de visita por atrativo pela primeira vez e agora é possível uma comparação entre 2023 e 2024.
Dos 7 atrativos monitorados, três tiveram aumento na visitação em 2024: Parque Lage +17,5%, Vista Chinesa +4,1% e Morro do Corcovado +1,8%.

Consolidando em setores, o Setor Serra da Carioca, que inclui o Morro do Corcovado, o Parque Lage, a Estrada do Redentor e a Vista Chinesa, que concentra 89,5% das visitas do Parque Nacional, teve um aumento de 5,8% na visitação, enquanto o Setor Floresta, composto pela Floresta da Tijuca teve uma redução de 7,3% na visitação e o Setor Pedra Bonita e da Gávea teve uma redução de 4,4% entre 2023 e 2024.
Se os principais atrativos do Parque Nacional da Tijuca fossem parques nacionais diferentes, ocupariam 4 das 10 posições entre os mais visitados. O Morro do Corcovado, onde está a estátua do Cristo Redentor, sozinho recebe mais visitas que o Parque Nacional do Iguaçu, o segundo mais visitado do país.

Por falar nele, o Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, superou pela segunda vez a marca das 2 milhões de visitas anuais, atingindo um novo recorde. A concessionária Urbia Cataratas indicou que 2024 foi o ano com maior venda de ingressos para brasileiros, 1.119.590 ingressos. Foi quebrado também o recorde no número de nacionalidades que visitaram o Parque Nacional: 190.
Ainda sobre o Iguaçu, o aumento de 12,4% no número de visitas deve-se a novos atrativos como a reabertura dos caminhos do Poço Preto e das Bananeiras, bem como a inauguração da Trilha Ytepopo. Somam-se a esses lançamentos novas experiências como o eio de bicicleta pelo Poço Preto, eios ao pôr do sol e visitas noturnas.
Concentração da visita 1e5v53
A visitação a parques nacionais ainda apresenta elevada concentração. Em 2024, 76,8% do total de visitas ficou concentrada em apenas 5 parques. Se considerados os 10 parques mais visitados, o índice sobe para 87,3% do total. Em 2023 a concentração foi de 76,7% nos cinco parques mais visitados e 87,6% no top dez.

A concentração não é exclusiva dos parques nacionais. O Instituto Semeia consolidou, pela primeira vez, os dados de visitação a parques nacionais e estaduais no Visitômetro dos Parques do Brasil. Em 2023, foram somadas 4,1 milhões de visitas a parques estaduais e 11,8 milhões de visitas a parques nacionais, totalizando 15,9 milhões de visitas a parques nacionais e estaduais.
Quatro parques estaduais integram a lista dos dez parques mais visitados do país nesse contexto. Assim como no indicador de parques nacionais, ao incluir os estaduais há também uma concentração: 72% da visitação ocorre nos dez parques nacionais ou estaduais mais visitados, sendo quase metade (49%) concentrada nos três primeiros da lista
Voltando ao tema dos parques nacionais e aos indicadores de 2024 (o visitômetro tem está atualizado com dados de 2023), além de observar as concentrações e principais parques visitados, é possível também elaborar um comparativo por biomas.
Visitação por biomas 3x505

A Amazônia tem 21 parques nacionais ou 28% do total e recebe apenas 1% do total de visitas. Mesmo que ainda baixa, a visitação dos parques nacionais desse bioma aumentou 43% de 2023 a 2024, impulsionada pelos Parques Nacionais de Anavilhanas (AM) e Monte Roraima (RR).
Já a Caatinga, com 10 Parques Nacionais ou 13% do total, recebeu 15% das visitas e teve um aumento de 5,3% na visitação, impulsionada pelos Parques Nacionais de Jericoacoara (aumento absoluto) e Ubajara, ambos no Ceará; e Sete Cidades (no relativo), no Piauí.
No Cerrado, há 14 Parques Nacionais ou 19% do total, que receberam 9% do total de visitas. O bioma teve uma redução de 11,8% no número de visitas. Os principais parques com redução de visitação no bioma foram Chapada dos Guimarães (MT), cujo turismo sofreu grandes impactos com o fechamento da rodovia que liga a cidade que dá o ao parque à capital, Cuiabá; Brasília, pelos pontos indicados anteriormente no texto; assim como Serra do Cipó (MG) e Chapada dos Veadeiros (GO). Dois parques compensaram, ainda que parcialmente, a queda dos demais com um aumento na visitação: Lençóis Maranhenses (MA) e Serra da Canastra (MG).
Cabe lembrar que há parques que representam mais de um bioma, como Lençóis Maranhenses, mas cujo dado de bioma segue o do mais representativo indicado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

A Mata Atlântica é o bioma com mais parques nacionais. São 25, ou 33% do total. Esse bioma é o que recebe na média mais visitas por parque (351 mil ao ano) e teve um aumento substancial de 8,2% na visitação em 2024. Esse aumento foi puxado pelos parques nacionais do Iguaçu, Itatiaia e Restinga de Jurubatiba, como indicado acima. Dois parques nacionais desse bioma tiveram queda na visitação: Aparados da Serra e Serra Geral, decorrentes das enchentes no Rio Grande do Sul.
Pampa e Pantanal Matogrossense são biomas com um único parque nacional e que tiveram aumento de 14,8% e 32,8%, respectivamente em 2024.
A análise acima pode estar enviesada pelos top 10 e parques sem visitação informada. Excluindo esses parques, que chamamos aqui de outliers, vemos um maior equilíbrio entre os biomas, mas ainda com elevadas diferenças.

Ao serem desconsiderados os outliers, a média de visitas a parques nacionais do Cerrado a a ser a maior entre todos os biomas: 58 mil vs 49 mil na Mata Atlântica. Os números de Amazônia, Caatinga e Ambiente Marinho Costeiro ficam um pouco mais equilibrados desconsiderando os parques zerados (14) e os parques dentre os 10 mais visitados.

Além do turismo 46i67
Cabe lembrar que a visitação é apenas um dos indicadores monitorados pelos gestores, mas que há outros indicadores de sucesso na conservação, como o monitoramento da biodiversidade.
Em 2024, o Programa Monitora completou 10 anos e demonstrou que 91,9% da biodiversidade monitorada nas Unidades de Conservação Federais apresenta estabilidade. Já o Relatório Planeta Vivo, atualizado em 2024 pelo WWF, indica uma redução de 73% na biodiversidade nos últimos 50 anos, sendo a América Latina a campeã em redução: 95% da biodiversidade foi perdida em 50 anos. A mensuração da biodiversidade, nos casos acima, representa a saúde dos ecossistemas e da vida selvagem, mostrando as tendências das populações de diversas espécies selvagens e nativas.


Outros estudos revelam o papel econômico dessas áreas protegidas, como a publicação “Parques como vetores para desenvolvimento do Brasil”, que indica que a visitação poderia aumentar 4x com a infraestrutura atual, gerando 1 milhão de postos de trabalho. Perspectivas que são de vital importância para que possamos corrigir as rotas de onde falta educação ambiental e indicar o potencial de atração de novos visitantes.
Visitantes que sairão dos parques não somente tendo usufruído de atrativos de cair o queixo, mas gerando empregos e com benefícios comprovados de bem-estar. Ao visitar um parque nacional, de forma ordenada, contribuímos direta e indiretamente com a conservação em um mundo que a por uma crise climática e no qual as Unidades de Conservação representam alguns dos últimos refúgios que protegem nossa biodiversidade, prestam serviços ecossistêmicos de valor incomensurável e, com isso, garantem a sustentabilidade da vida humana neste planeta.
Agradecimentos à Coordenação de Estruturação da Visitação (COEST) e à Coordenação Geral de Uso Público (CGEUP) do Instituto Chico Mendes (ICMBio) pela coordenação e organização dos números em painéis. Agradecimentos aos servidores Viviane Lasmar e Marcos Carmo do Parque Nacional da Tijuca, Felipe Mendonça do Parque Nacional do Itatiaia, Larissa Diehl do Parque Nacional de Brasília e Marcos Santos do Parque Nacional de Jurubatiba pelos esclarecimentos. E a todos os servidores ambientais e agentes temporários que trabalharam e/ou trabalham direta ou indiretamente na gestão do uso público em cada uma das Unidades de Conservação brasileiras. E à Duda Menegassi pela revisão deste texto.
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.
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